
A revisão da TSU em 2025 reacende o trauma salarial entre servidores públicos moçambicanos, que temem a repetição dos erros de 2022, quando a unificação salarial gerou caos e desmotivação.

O TSU
A promessa de reformulação da Tabela Salarial Única (TSU), feita pelo presidente Daniel Chapo em 2025, trouxe de volta uma preocupação que muitos funcionários públicos ainda carregam desde 2022: o trauma salarial. Criada com o objetivo de uniformizar salários e racionalizar os gastos do Estado, a TSU acabou por provocar injustiças, atrasos administrativos e perda de benefícios. Agora, com novas revisões em curso, o receio é de que o passado se repita.
O Histórico Conturbado da TSU
A TSU foi inicialmente aprovada em 2022 com a intenção de simplificar e padronizar a estrutura salarial do Estado moçambicano. A proposta previa a criação de 21 níveis salariais e a eliminação de discrepâncias entre carreiras com funções semelhantes. No entanto, a implementação foi marcada por:
- Atrasos nos pagamentos;
- Supressão de subsídios essenciais;
- Promoções bloqueadas;
- Falta de comunicação clara sobre os critérios de enquadramento.
O resultado foi um cenário de descontentamento generalizado, sobretudo nos setores da Educação, Saúde, Justiça e Administração Pública.
O Trauma Vivido pelos Funcionários Públicos
Entre 2022 e 2024, milhares de trabalhadores do Estado enfrentaram reduções salariais inesperadas, enquanto outros viram seus salários congelados por meses. Professores, enfermeiros e técnicos especializados relataram o desaparecimento de incentivos, como horas extras e subsídios de localização, fundamentais para garantir o mínimo de estabilidade financeira.
Estudos realizados em distritos como Caia mostraram que cerca de 62% dos funcionários relataram queda na motivação e perda de produtividade devido à nova tabela. A sensação de injustiça institucional agravou ainda mais a crise.
TSU 2025: O Que Está em Jogo na Nova Revisão
Em maio de 2025, o Governo anunciou alterações à TSU por meio de decretos que visam:
- Desbloquear atos administrativos como promoções, reformas e pensões;
- Ajustar qualificadores e tabelas de referência para melhor enquadramento das carreiras;
- Corrigir distorções salariais herdadas da implementação inicial;
- Redefinir o teto e piso salarial para melhor equilíbrio fiscal e atratividade de cargos públicos.
Apesar das boas intenções, a desconfiança permanece entre os trabalhadores. Muitos enxergam a nova fase da TSU como mais uma manobra política sem efeitos práticos imediatos.
As Declarações de Chapo: Promessas Sem Garantias
Durante uma intervenção em julho de 2025, o presidente Daniel Chapo reforçou o compromisso com a valorização do funcionalismo público, prometendo corrigir as incongruências e garantir maior justiça salarial. No entanto, ele também admitiu dificuldades financeiras graves do Estado, impedindo o pagamento de dívidas antigas e horas extras, especialmente na Educação e Saúde.
O tom conciliador de Chapo não foi suficiente para tranquilizar os sindicatos e representantes da classe. O temor é que, sem um cronograma claro, a revisão acabe se limitando a ajustes burocráticos, sem impacto real nos rendimentos e condições de trabalho dos servidores.
Funcionários Públicos em Alerta: “Não Queremos Mais um Golpe”
Em um ato simbólico, servidores entregaram ao Presidente um documento com reivindicações urgentes, exigindo:
- Retorno de subsídios de gestão, risco e rotação;
- Atualização e pagamento de horas extras em atraso;
- Aceleração de processos administrativos como promoções e pensões;
- Maior clareza e transparência na aplicação das novas regras salariais.
A mensagem é clara: não se aceita mais improvisações. Os funcionários querem reconhecimento real, progressão na carreira e estabilidade.
A revisão da TSU em 2025 reacende feridas ainda abertas no funcionalismo público. Embora as medidas anunciadas pelo Governo tenham potencial para corrigir distorções, a falta de clareza, o histórico de falhas e as limitações financeiras do Estado alimentam o receio de um novo colapso salarial. Para que essa reforma não seja apenas simbólica, será preciso diálogo aberto, compromisso orçamental e respeito efetivo pelos direitos de quem serve o Estado todos os dias.